voltar



residência artística:

arte, cura e rituais

práticas e conformações | interações

 

QUAIS OS NOVOS SENTIDOS DE REDES E TRAMAS?

Situar-se no tempo corresponde à complexidade de sua assimilação. O mundo atravessa uma suspensão coletiva, ressaltando conjunções ao passo que também soma perdas. Mais do que pensar no pós, os artistas aqui reunidos lançam olhos para o presente que, supostamente adiado, inaugura perguntas. O pronunciamento de seus corpos anuncia o atual: há a urgência de elaborar métodos para ultrapassagens. Os ritos de proteção jogam com os desejos de contágio que, indicando além dos sinônimos enfermos, ensejam a necessidade de colher das distâncias físicas o que há de proximidade. A atualização dos sentidos de “ritual” mantém a carga de concomitância entre sujeitos, tempo e espaço. A partir disso tem-se a proposta de residência no ambiente virtual: como ativar habitações no espaço das redes de compartilhamento? Sem que o foco seja o passado, a pretensão de futuro torna-se palpável através da compreensão de sua influência no agora – as vidências também ficam pendentes. Sobretudo quando as exposições migram à virtualidade, vê-se nos murais online uma infinidade de imagens acompanhadas por textos, orientações, símbolos e conselhos comunitários. O impulso que une os artistas que compõem Arte, Cura & Rituais é o de reler tais opções, buscando formas de não torná-las mero artifício da facilidade: há motivos possíveis aliados às novas práticas virtuais do fazer artístico. É preciso vasculhá-los.

Júlia Vita

O QUE DIFERENCIA UMA RESIDÊNCIA ARTÍSTICA DE UMA GALERIA VIRTUAL?

Em primeiro passo, a proposta para a Plataforma Pandêmica se inicia a partir do sentimento de angústia, vivido nestes tempos de crise global. Como anda a saúde mental neste período? Como resistiremos? Compartilhando. Há a importância de se criar uma rede de apoio para a expressão, ou seja, quando nos pronunciamos passamos a existir para o outro, e a escuta é a permissão para essa existência. Nesse contexto alguns artistas oriundos da graduação, mestrado e convidados se uniram através de um convite da Galeria Orgâni.co para uma Residência Virtual durante o mês de junho. Essa união não foi desenvolvida de um dia para o outro, mas formada por encontros em exposições no Centro de Artes UFF, reuniões pós aula, conversas nos intervalos, grupos de pesquisa e afins. A união inaugural foi gerada pelo cotidiano no âmbito da universidade. Laços e nós de uma trama que não finda. Sendo assim, no decorrer do processo da feitura do projeto para o convite ao habitar, realizado pela galeria, percebemos o desejo de expandir e contaminar, convidando mais amigos, descobrindo outros, oferecendo apoio e conferindo visibilidade nesse momento tão distinto. Além disso, a necessidade de se estar em “residência” neste momento abrange, para além do sentido do uso artístico vinculado à palavra, um novo ritual de cuidado para com o outro. Com a reclusão obrigatória, em que lugar se encontra nossa pulsão vital e criativa? Continuamos a produzir arte? Como está se dando esta produção? Habitar é o ritual da transformação, não se trata de trabalhos prontos. A Plataforma Pandêmica se instaura como lugar para troca e vivência conjunta de novas formas de experiências e ressignificação do que é “estar junto”.

Amanda Erthal

COMO PODEMOS COMPREENDER OS CONCEITOS DE CURA E RITUAIS NA ATUALIDADE?

Pensando em novas organizações de geografia dos lugares, surgem questões. Como utilizar a tecnologia para estar junto, tendo em conta a nova interface de compreensão do que consideramos como tempo e espaço? O estar junto é terapêutico, além de desempenhar uma forma de mitigação de angústias. Devemos estar atentos à percepção do surgimento e da produção de novas formas de conhecimentos recíprocos, oriundos da virtualidade que caracteriza nosso tempo. É nesse lugar que nos tornamos, então, um corpo de múltiplos. Desse modo, compreender os novos conceitos de cura e de rituais é também buscar submeter-se à experimentação coletiva destes, ainda que desconhecendo a totalidade de suas potências e possíveis desdobramentos. Um dos objetivos da residência é vasculhar as possíveis novas maneiras de realização de rituais artísticos, relacionando compreensões desses novos significados. Acreditamos na importância de manter a Universidade como disparadora de possibilidades, assim como na importância de aproximá-la da comunidade sobretudo diante da facilidade que o ambiente virtual proporciona, apesar das explícitas desigualdades de acesso. Manter os terrenos férteis, as relações vivas e próximas mesmo em suas distâncias. Para tal, intentamos a utilização da plataforma como ponto de encontro, gerando palestras, fóruns com artistas convidados, amostragem e debate de trabalhos que estão sendo desenvolvido no período da residência, convite aos participante de compartilhamentos recíprocos, oficinas oferecidas pelos artistas, lives abertas ao público e laboratórios de pesquisa. Um cronograma de atividades durante o mês de agosto.

Gabi Bandeira

linhas de pesquisa

A proposta da residência Arte, Cura & Rituais é, durante o período de 30 dias, investigar possibilidades de desenvolvimentos de trabalhos artísticos durante o período de isolamento social. Buscando novas metodologias para que as produções dos participantes se transformem em enunciações coletivas, ainda que distantes e fisicamente individuais. Considerando o momento delicado de suspensão de resoluções e soluções rápidas, a atenção primordial desse projeto é dada ao processo gradual de teorização e experimentação da proposta, e não somente à obra final. Escolhemos, dentro de uma infinidade de possibilidades, alguns eixos que podem ajudar na estruturação das pesquisas:

  • Reconexões, Corpo & Natureza:

Dentro desse eixo pensamos o resgate da conexão do ser humano com a natureza, tanto com as subjetividades do inconsciente -- e suas memórias -- quanto com a natureza física da Terra.

  • Rituais de Cura & Proteção:

Esse eixo aborda práticas ritualísticas que auxiliam as vivências pessoais e mútuas, a partir da relação da arte com os processos de cura e proteção. As tradições e religiosidades que compõem trajetórias e, para além disso, ressignificações das práticas ritualísticas na contemporaneidade. Ainda há a exploração do questionamento sobre o que configuraria esse novo tipo de ritualidade.

  • Novas Configurações, Corpo em Domicílio:

Esse eixo trata mais diretamente sobre a nova realidade enfrentada durante a pandemia da COVID19. O corpo afastado e se restabelecendo nas distâncias, não mais em trânsito. Como se organiza esse corpo confinado? Diante de tantas restrições há a pesquisa sobre quais seriam as possibilidades restantes e que surgem. As questões acerca das estratégias artísticas e de contato no momento atual, com a virtualidade mais latente em todos os âmbitos por exemplo.

 

Equipe Curatorial:
Amanda Erthal, Christian Paredes, Gabriela Bandeira, Júlia Vita e Tuca Melo
Mediação Virtual:
Adryanna Diniz